Nos finais dos anos 70, e durante as décadas seguintes, colabora regularmente em periódicos como O Diário do Minho; O Comércio do Porto e o Nova Renascença, onde colabora com José Augusto Seabra; ou o suplemento “A Arca do Verbo”, d’O Setubalense, organizado pelo poeta João Carlos Raposo Nunes.
“Na segunda metade do século XX português, a inspirada escrita de Dalila talvez só encontre paralelo em Gabriela Llansol, que consigo partilha referências culturais e espirituais afins, como a mística medieval beguina, renana e flamenga, mas literariamente elaboradas em clave estilística modernista, enquanto que Dalila as assume como pontos de apoio universais da sua própria experiência, o que a conduzirá à sua permanente e saudosa re-memoração, re-actualização e re-leitura à luz de dados culturais tão diversos como a pintura, a poesia, a filosofia ou a religião popular portuguesa. O que as aproxima, para além do permanente aprofundamento da experiência da leitura e da escrita de si próprias, é a hibridez de géneros que cultivam e o objectivo de uma sugestão da totalidade em cada momento.” (Lopo, R. (2008). Memória que guarda, verbo que anuncia (pp. 170-171). In Natário, M. C. et al. (Coords.), Actas do III Colóquio Luso-Galaico Sobre a Saudade. Sintra: Alexandre Gabriel (Zéfiro).)
“CIDADE NOCTURNA
(Esquina do Rosário.) Às vezes a minha cidade perde a forma dura e petrificada, a dum só tempo, este, para tomar outra: maleável e subtil, feita de múltiplas eflorescências que vejo agora e depois, que me surgem e crescem diante dos olhos, vivas, ao longo do dia. Quando o espírito solto e livre do tempo, imerge até ao fundo da terra. E então aí, toca e deambula nesta cidade sua, a eterna.
Hoje vejo, aquelas casinhas todas iguais, naquela ponta aguda do triângulo, com os gradeados à frente, o pequeno pátio, a escada de alguns degraus.
No passeio, um inglês afastava-se lentamente.” (p.9)
“MANHÃ DE INVERNO (MARÃO)
A terra preta dormindo. Este silêncio frio que a tapa toda.
O céu alto por agora afastado dela.
As casas quietas, nas pregas dos montes.
Os montes, este e aquele, enroscados, de dorso alto e pêlo fulvo.
Mas a água que corre e espuma em veias abertas.
Os campos lá longe que brilham verdes.
E aqui na volta da estrada, esta cerejeira de ouro que de súbito surge, num estremecimento.
– A terra vem ao meu encontro e transporta no seu seio, uma semente verde, apertada.
E atrás vêm as árvores, todas, erguendo um dedo sobre os lábios.” (p. 63)
(Costa, D. L. (1973). Encontro na noite. Porto: Lello & Irmão-Editores.)
“Se a saudade recebeu a sua primeira formulação histórica no território do noroeste peninsular, como poesia galaico-portuguesa, a razão não seria porque também foi nesse mesmo território que no passado pré-histórico teve sua maior manifestação o culto da Deusa-Mãe, e sua mais potente persistência, em formas sociais e religiosas através da história?” (Costa, D. P. (1984). Da serpente à Imaculada. Porto: Lello & Irmão – Editores.)
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